segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
CAPÍTULO XVIII: A Perfeição da Renúncia
CAPÍTULO XVIII: A Perfeição da Renúncia
Pérolas 93. O PROPÓSITO DA RENÚNCIA (versos 1 a 6)
1. Arjuna disse: Ó pessoa de braços poderosos, desejo compreender o propósito da renúncia e da ordem de vida renunciada (sannyasa), ó matador do demônio Keshi, Senhor dos sentidos. 2. A Suprema Personalidade de Deus disse: A renúncia a atividades que se baseiam no desejo material é o que os grandes eruditos chamam de ordem de vida renunciada (sannyasa). E abdicar os resultados de todas as atividades é o que os sábios chamam de renúncia (tyaga). 3. Alguns homens instruídos declaram que todas as espécies de atividades fruitivas devem ser abandonadas porque são defeituosas, mas outros sábios argumentam que os atos de sacrifício, caridade e penitência jamais devem ser abandonados. 4. Ó melhor dos Bharatas, agora ouça o que tenho a dizer sobre a renúncia. Ó tigre entre os homens, as escrituras afirmam que há três categorias de renúncia. 5. Os atos de sacrifício, caridade e penitência não devem ser abandonados, ma sim executados. Na verdade, sacrifício, caridade e penitência purificam até as grandes almas. 6. Todas essas atividades devem ser executadas sem apego nem expectativa alguma de resultado. Elas devem ser executadas por uma simples questão de dever, ó filho de Pritha. Esta é Minha opinião final.
Em todos os capítulos do Bhagavad-gita, o Senhor dá importância especial ao processo de serviço devocional e agora, neste capítulo, encontramos o resumo de toda esta ciência devocional. Desse modo, como não podia deixar de ser, as instruções finais do Bhagavad-gita concentram-se em torno do tema da verdadeira renúncia. Em outras palavras, com exceção das atividades da consciência de Krishna, deve-se abandonar todo e qualquer interesse por resultados mundanos. Por isto, se menciona aqui que tanto os sacrifícios, quanto as caridades e penitências que purificam o coração nunca devem ser abandonados, pois eles produzem avanço espiritual devendo ser praticados em todas as fases da vida. É importante entender que, embora as opiniões sobre o tema da renúncia se diferem bastante, aqui a própria Suprema Personalidade de Deus dá Seu parecer, o qual deve ser considerado por nós como definitivo. A conclusão é que deve-se estimular qualquer caridade, austeridade ou penitência que possa conduzir uma pessoa direta ou indiretamente à consciência de Krishna e este é o critério mais elevado e mais objetivo de ocupação religiosa.
Pérolas 94. COMO PRATICAR A RENÚNCIA (versos 7 a 13)
7. Nunca se deve renunciar aos deveres prescritos. Se, por causa da ilusão, alguém renuncia a seus deveres prescritos, diz-se que semelhante renúncia está no modo da ignorância. 8. Todos que abandonaram seus deveres prescritos por serem problemáticos ou por medo de desconforto físico renunciaram sob a influência do modo da paixão. Tal ato jamais conduz à elevação decorrente da renúncia. 9. Ó Arjuna, quando alguém executa seu dever prescrito só porque deve ser feito, e renuncia a toda a associação material e a todo o apego ao fruto, diz-se que sua renúncia está no modo da bondade. 10. O renunciante inteligente, situado no modo da bondade, que não detesta o trabalho inauspicioso nem se apega ao trabalho auspicioso, não tem nenhuma dúvida sobre o trabalho. 11. De fato, é impossível para um ser corporificado renunciar a todas as atividades. Mas quem renuncia aos frutos da ação é que renunciou de verdade. 12. Para quem não é renunciado, as três espécies de frutos da ação – desejáveis, indesejáveis e mistos – germinam após a morte. Mas aqueles que estão na ordem de vida renunciada não experimentam este resultado sob a forma de sofrimento e prazer.
Renunciar no modo da ignorância significa renunciar os deveres prescritos. Por exemplo, os pais de uma criança têm o dever de protegê-la e educá-la material e espiritualmente, mas caso esteja no modo da ignorância, os pais se tornam irresponsáveis e deixam de cumprir este importante compromisso. Tal renúncia está no modo da escuridão.
A pessoa sob a influência da paixão é muito instável. As vezes, quando a situação lhe é conveniente, a pessoa apaixonada dedica-se entusiasticamente ao cumprimento de seus deveres. Mas, quando a situação se torna difícil, problemática ou desconfortável, ela tem a tendência de abandoná-los. Isto é um exemplo típico de renúncia influenciada pela paixão. Mas, o Bhagavad-gita nos ensina o tempo que devemos agir com conhecimento perfeito, executando nossos diferentes deveres o melhor possível e, ao mesmo tempo, nos mantendo desapegados do resultado final. Essa é a característica do modo da bondade. Tal pessoa mantém-se estável o tempo todo, independente das diferentes situações externas que possam surgir. Se a situação se torna desfavorável, por exemplo, ela não age de má vontade ou fica se lamentando ou resmungando. E quando as condições favoráveis se apresentam, ela tampouco se sente excessivamente jubilosa. Sua inteligência é pura e nunca se altera devido às condições externas.
Como o Senhor Krishna já havia explicado no Capítulo Três, Ele aqui novamente enfatiza que ninguém consegue livrar completamente da ação. Desse modo, a idéia de renunciar a todo tipo de trabalho é falsa e imprática. Na verdade, em vez de abandonar o trabalho em nome da assim chamada renúncia, deve-se abandonar, isso sim, o fruto do trabalho. A idéia é que executando o trabalho da melhor maneira possível e, ao mesmo tempo, oferecendo o fruto ao Senhor, atinge-se a plataforma pura e perfeita da renúncia. Isto irá manter uma pessoa livre do compromisso de permanecer neste mundo material, ou seja, livre do desfrute ou sofrimento dos resultados dos seus atos.
Pérola 95. DIFERENTES CAUSAS DA AÇÃO (versos 13 a 18)
13. Ó Arjuna de braços poderosos, segundo o Vedanta existem cinco causas que levam à concretização de todos os atos. Agora ouça enquanto falo sobre isto.14. O lugar onde ocorre a ação (o corpo), o executor, os vários sentidos, as muitas diferentes espécies de esforço e, por fim, a Superalma – estes são os cinco fatores da ação. 15. Qualquer ação certa ou errada que um homem execute através do corpo, da mente ou da fala é causada por estes cinco fatores. 16. Portanto, aquele que se considera o único executor e não leva em consideração os cinco fatores com certeza não é muito inteligente e não pode perceber as coisas como elas são. 17. Aquele que não é motivado pelo ego falso, cuja inteligência não está enredada, embora mate homens neste mundo, não mata. Tampouco fica preso a suas ações. 18. O conhecimento, o objeto do conhecimento e o conhecedor são os três fatores que motivam a ação; os sentidos, o trabalho e o autor são os três constituintes da ação.
Aqui o Senhor cita a filosofia Vedanta para explicar sobre as cinco causas que determinam uma ação. Compreendendo-as, pode-se obter sucesso em todo tipo de atividade. O corpo onde a alma habita é conhecido como o lugar onde ocorre a ação e a alma que está vivendo temporariamente nele é chamada de executora. A alma também utiliza os diferentes sentidos como seus instrumentos de ação, por isso, os sentidos são também um importante fator. Ao mesmo tempo, o grau de esforço ou desempenho durante qualquer atividade tem sua importância, mas, finalmente, a vontade da Superalma é certamente o fator determinante mais decisivo. O que se chama comumente de consciência de Krishna significa simplesmente agir sob a direção da Superalma, A qual que habita no coração do ser vivo como o amigo mais bondoso. Agindo-se, desse modo, sob Sua direção transcendental, a pessoa nunca se prende a nada, pois ela se livra do risco de agir sob sua própria responsabilidade. Uma pessoa desprovida de conhecimento espiritual não compreende a presença da Superalma no coração dos seres vivos e, por isso, nunca poderá agir corretamente. Na verdade, ela se julga o autor de suas próprias atividades e é sempre motivado pelo ego falso.
Aqui também se explica que existem três fatores que motivam a ação: o conhecimento, o objeto do conhecimento e o conhecedor; e os três fatores que constituem a ação: os sentidos, o trabalho e o autor. O conhecedor é a pessoa que, de algum modo, obteve algum tipo de conhecimento e, desse modo, estabeleceu um objetivo em particular. Assim, ele passa a agir com a ajuda de seus sentidos. Quando a pessoa é iluminada pelo conhecimento transcendental, ela e torna um verdadeiro conhecedor da verdade e seus objetivos são espirituais. Desse modo, ele passa a agir sob a guia da Superalma e seus sentidos permanecem sob completo controle tornando-o um instrumento do Senhor, e não um simples autor egoísta.
Pérola 96. AS TRÊS CLASSES DE CONHECIMENTO (versos 19 a 22)
19. Conforme os três diferentes modos da natureza material, há três classes de conhecimento, ação e executor da ação. Agora ouça enquanto falo sobre elas. 20. Você deve compreender que está no modo da bondade aquele conhecimento com o qual se percebe uma só natureza espiritual indivisa em todas as entidades vivas, embora elas se apresentem sob inúmeras formas. 21. Você deve entender que está no modo da paixão aquele conhecimento com o qual se vê em cada corpo diferente um diferente tipo de entidade viva. 22. E diz-se que está no modo da ignorância aquele conhecimento pelo qual alguém se apega a um tipo específico de trabalho como tudo o que existe, sem ter a compreensão da verdade, além de ser muito escasso.
Como podemos constatar, os três modos da natureza material estão sempre interagindo com os seres vivos em todos os seus momentos, lugares e circunstâncias. A pessoa no modo da bondade, por exemplo, desenvolve verdadeiro conhecimento e desenvolve uma visão equânime. Em outras palavras, ela pode reconhecer a presença da mesmíssima qualidade da alma espiritual em todos os diferentes seres. Isto significa que, independente da espécie na qual um ser vivo possa estar vivendo temporariamente, quer esteja ele num vegetal, inseto, réptil, aquático ou humano, a alma é da mesma qualidade e, ao mesmo tempo, possui sua individualidade eterna. No entanto, sob a influência do modo da paixão, a pessoa acredita que, mesmo que exista a alma, elas são de diferentes qualidades. Em outras palavras, ela acha que as almas que habitam os seres inferiores são diferentes daquilo que ela chama de “almas humanas”. Infelizmente, esta filosofia influenciada pela paixão serve muitas vezes para justificar uma mentalidade violenta e predatória contra seres vivos inocentes. Na ignorância, a situação ainda é pior, pois a pessoa nem sequer acredita na existência da alma. Na verdade, o dito conhecimento de uma pessoa no modo da ignorância é inútil, pois gira em torno simplesmente de seus confortos físicos e satisfações corpóreas grosseiras.
Pérola 97. A AÇÃO E SUAS DIVISÕES (versos 23 a 25)
23. Diz-se que está no modo da bondade aquela ação que é regulada e que se executa sem apego, sem amor nem repulsa e sem desejo de resultados fruitivos. 24. Mas a ação executada com grande esforço por alguém que busca satisfazer seus desejos, e efetuada por causa de uma sensação de ego falso, chama-se ação no modo da paixão. 25. A ação executada em ilusão, que não leva em conta os preceitos das escrituras, e em que não há preocupação com cativeiro futuro ou com violência ou sofrimento causados aos outros diz-se que está no modo da ignorância.
A influência exercida pelos três modos da natureza nas diferentes ações dos seres vivos é também muito forte. O executor da ação sob a influência da bondade, por exemplo, se caracteriza pela sua estabilidade. Agindo impulsionado pelo desejo de comprazer o Senhor, o executor da ação na bondade executa seu dever da melhor maneira possível. Além disso, seus hábitos de vida são regulados pelas escrituras e, embora seja uma pessoa paciente e tolerante, sua determinação é firme e constante.
No modo da paixão, o executor é movido pelo desejo de lucro e resultados materiais pessoais e suas ações são empreendidas com um esforço exagerado causando uma grande sensação de ego falso. E, no modo da ignorância, as ações são ilusórias e não fazem o menor sentido. Tais ações não estão sob a direção de nenhuma escritura religiosa autorizada e é sempre inconsequente e prejudicial. Além disso, no modo da ignorância existe uma forte tendência de agindo violentamente e causando sofrimentos às pessoas alheias. Como foi falado diversas vezes, o devoto do Senhor, no entanto, é transcendental aos modos da natureza material. Estando acima do ego falso e orgulho materiais, o devoto age com pureza. As dificuldades podem surgir a qualquer momento, porém, no êxito ou no fracasso; no sofrimento ou na felicidade, ele entrega os resultados ao Senhor e continua feliz e satisfeito cantando Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare.
Pérola 98. O EXECUTOR E SUAS DIVISÕES (versos 26 a 28)
26. Aquele que executa seu dever sem entrar em contato com os modos da natureza material, sem ego falso, com grande determinação e entusiasmo, e sem se deixar levar pelo sucesso ou pelo fracasso diz-se que é um trabalhador no modo da bondade. 27. O trabalhador que se apega ao trabalho e aos frutos do trabalho, desejando gozar esses frutos, e que é cobiçoso, sempre invejoso, impuro e que se deixa afetar pela alegria e tristeza, diz-se que está no modo da paixão. 28. O trabalhador que sempre está ocupado em trabalho que vai de encontro aos preceitos das escrituras, que é materialista, obstinado, trapaceiro e perito em insultar os outros, e que é preguiçoso, sempre desanimado e irresoluto diz-se que é um trabalhador no modo da ignorância.
A determinação e o entusiasmo firme e constante são características evidentes do modo da bondade. Além disso, no modo da bondade o trabalhador é sempre imperturbável, devido a ausência de luxúria e cobiça. Ainda assim, o trabalhador na bondade tem seu programa de trabalho regulado, pois não utiliza seu valioso tempo só para o trabalho. Ele reserva parte de seu tempo para cultivar conhecimento e para se dedicar a auto-realização espiritual.
No modo da paixão, o trabalhador manifesta características diferentes. Sob sua influência, o trabalhador no modo da paixão se apega exageradamente ao seu trabalho como se fosse a coisa mais importante da vida. Na verdade, o seu tempo todo é utilizado para o trabalho e ele mal tem tempo para comer e descansar em paz. Sendo um materialista obstinado, o trabalhador na paixão se apega aos filhos e esposa além do limite prescrito pelas escrituras, mas, ainda assim, tem pouco tempo para se associar com eles. Ele possui uma forte tendência a invejar os outros trabalhadores que são mais bem sucedidos economicamente do que ele, ou que tenham um maior padrão de conforto. Isso geralmente o leva a buscar dinheiro através de meios ilegais e ilícitos.
O trabalhador na ignorância é o mais tolo entre todos e, apesar de também ser materialista, ele está geralmente desanimado e sob a influência da preguiça, e sua determinação é completamente fraca. Ele não possui o menor interesse de conhecer e seguir as escrituras religiosas, pois é uma pessoa obstinada e ofensiva aos demais. Como se não bastasse, além dessas más qualidades, o trabalhador no modo da ignorância se atrai por trabalho sujo e nunca perde uma oportunidade para enganar os outros, fazendo trapaças para agir satisfazer os seus desejos mundanos.
Pérola 99. A DIVISÃO DA COMPREENSÃO E DA DETERMINAÇÃO (versos 29 a 35)
29. Ó conquistador de riquezas, agora por favor ouça enquanto lhe falo pormenorizadamente sobre as diferentes espécies de compreensão e determinação, segundo os três modos da natureza material. 30. Ó filho de Pritha, esta compreensão pela qual se sabe o que deve ser feito e o que não deve ser feito, o que se deve temer e o que não se deve temer, o que prende e o que liberta, está no modo da bondade. 31. Ó filho de Pritha, a compreensão que não pode distinguir entre religião e irreligião, entre ação que deve ser feita e ação que não deve ser feita, está no modo da paixão. 32. A compreensão que considera a irreligião como religião e a religião como irreligião, que age sob o encanto da ilusão e da escuridão e se esforça sempre na direção errada, ó Partha, está no modo da ignorância. 33. Ó filho de Pritha, a determinação que é inquebrantável, que através da prática de yoga ganha muita firmeza e controla então as atividades da mente, vida e sentidos, é determinação no modo da bondade. 34. Mas a determinação pela qual o homem se atem aos resultados fruitivos da religião, do desenvolvimento econômico e do gozo dos sentidos é da natureza da paixão, ó Arjuna. 35. E a determinação que não pode transpor o sonho, o medo, a lamentação, a melancolia e a ilusão – tal determinação ininteligente, ó filho de Pritha, está no modo da escuridão.
A determinação de uma pessoa em executar um determinado tipo de trabalho está sempre relacionado com o nível de compreensão que ela atingiu. Por isso, o Senhor Krishna prefere tratar destes dois assuntos conjuntamente.
Saber o que se deve ser feito e o que se deve ser evitado não é uma simples questão de inteligência. Primeiramente, a pessoa precisa conhecer as direções das escrituras autorizadas para, além disso, executar suas ações baseadas nestas direções. Uma pessoa no modo da bondade age desta maneira. No entanto, no modo da paixão, mesmo uma pessoa dita inteligente está sempre confusa no que diz respeito à execução correta de seus verdadeiros deveres, quer sejam sociais ou espirituais. Devido ao fato dela não conhecer as direções das escrituras, independente de qualquer esforço ou boa intenção, ela acaba pecando por não possuir verdadeira referência. Existem também as pessoas que, sob a influência do modo da ignorância, invertem o verdadeiro significado das coisas. Tais pessoas trilham naturalmente o caminho inverso. Para elas, a verdadeira religião é rejeitada como irreligião, e as coisas importantes da vida são deixadas de lado, enquanto elas se ocupam em coisas inúteis e inconsequentes.
Geralmente, a pessoa no modo da bondade pratica yoga e executa métodos que possam ajudá-la a controlar a mente e os sentidos. Deste modo, o verdadeiro interesse da vida humana pela auto-realização é sempre incrementado e a pessoa não desperdiça seu tempo com atividades banais. A pessoa no modo da paixão, no entanto, não consegue entender o verdadeiro sentido da yoga, mesmo que a pratique. Tal pessoa apaixonada está demais interessada em gozo dos sentidos e desenvolvimento econômico para entender que a verdadeira prática da yoga se destina a fixar-se na compreensão da Alma Suprema. Finalmente, no modo da ignorância só existe ilusão. Por isto, uma pessoa ignorante vive melancólica e só sabe se lamentar. Sua ilusão é tão grande que ela se contenta em passar a vida simplesmente sonhando e acaba não utilizando seu tempo em coisas realmente objetivas.
Pérola 100. A DIVISÃO DA FELICIDADE (versos 36 a 39)
36. Ó melhor dos Bharatas, agora por favor ouça enquanto falo sobre as três espécies de felicidade que levam a alma condicionada a desfrutar e que às vezes lhe trazem o fim de todo o sofrimento. 37. Aquilo que no começo pode parecer veneno, mas que no final é tal qual néctar e que causa o despertar da auto-realização diz-se que é felicidade no modo da bondade. 38. A felicidade que deriva do contato dos sentidos com seus objetos e que parece néctar no começo mas no final é um veneno diz-se que é da natureza da paixão. 39. E se diz que a felicidade que é cega para a auto-realização, que é ilusão do começo ao fim e que surge do sono, da preguiça e da ilusão é da natureza da ignorância.
A verdadeira felicidade é a felicidade espiritual. Porém, não devemos pensar que, enquanto esteja na condição de alma condicionada, uma pessoa pode desfrutar desta verdadeira felicidade neste mundo. Presa dentro de seu corpo específico, ela não pode manifestar sua verdadeira natureza plena. Ela primeiramente precisa se livrar da identificação com o ego falso para, como o próximo passo, parar de agir em função do corpo e, finalmente, iniciar suas atividades de serviço devocional para ir se purificando gradualmente de todo tipo de ilusão. Enquanto isto, dependendo da influência específica que estiver recebendo da natureza material, a pessoa experimenta diferentes graus de felicidade material.
A felicidade experimentada por uma pessoa que está se despertando para a auto-realização é uma felicidade no modo da bondade. A satisfação de ter encontrado um caminho autêntico de vida espiritual compensa qualquer tipo de sacrifício ou austeridade que se tenha que aceitar. Na verdade, quando a pessoa realmente chegou ao ponto de levar a sério seu caminho espiritual, as diferentes regras e deveres são executados com prazer. É como um criança que realmente chegou ao ponto de se alfabetizar. Para ela, frequentar a escola e fazer seus deveres escolares é motivo de grande prazer, mesmo que, como sabemos, ela terá que sacrificar seu tempo que anteriormente era utilizado com brincadeiras infantis.
Para uma pessoa no modo da paixão, prazer significa simplesmente ter êxito em colocar os sentidos em contato com objetos dos sentidos prazerosos. Por exemplo, uma pessoa no modo da paixão se sente feliz quando pode saborear alimentos saborosos, mesmo que, o resultado final disto, seja a causa de doenças. A atividade sexual é muito preeminente entre as pessoas no modo da paixão, por isto elas se sentem felizes em se relacionarem sexualmente com o sexo oposto. Evidentemente, no começo, o prazer sexual pode revelar-se como agradável. Com o passar do tempo, no entanto, a influência da paixão faz com que o assim chamado prazer sexual assuma características indesejáveis. O casal acaba se odiando e se separando, e tudo se torna motivo de grande ansiedade e lamentação – isso para não falar da consequência do rompimento do compromisso familiar que gera outras conseqüências indesejáveis. A felicidade da pessoa no modo da ignorância é caracterizada pela inatividade. Quanto menos responsabilidade ou compromisso uma pessoa na ignorância tiver, mais feliz ela se sentirá.
Pérola 101. O TRABALHO EOS MODOS DA NATUREZA (versos 40 a 44)
40. Aqui ou entre os semideuses nos sistemas planetários superiores, não existe ser algum que esteja livre destes três modos nascidos da natureza material. 41. Os brahmanas, os kshatriyas, os vaishyas e os shudras distinguem-se pelas qualidades que, de acordo com os modos materiais, são nascidas de sua própria natureza, ó castigador do inimigo. 42. Tranquilidade, autocontrole, austeridade, pureza, tolerância, honestidade, conhecimento, sabedoria e religiosidade – são estas as qualidades naturais com as quais os brahmanas agem. 43. Heroísmo, poder, determinação, destreza, coragem na batalha, generosidade e liderança são as qualidades naturais das atividades dos kshatriyas. 44. A agricultura, a proteção às vacas e o comércio são as atividades naturais dos vaishyas, e os shudras devem executar trabalho e serviço para os outros.
Todo ser vivo nasce como uma certa quantidade de inteligência, saúde, beleza etc. Portanto, baseados nessas qualidades, todos devem aceitar uma posição ocupacional de acordo com sua condição social.
Por exemplo, os brahmanas são a classe inteligente da sociedade e, por isso, são considerados a cabeça do corpo social. No entanto, mesmo sendo dotada de muita inteligência, uma pessoa terá que se submeter a um rigoroso treinamento sob a orientação do mestre espiritual autêntico para tornar-se um brahmana qualificado e situar-se realmente no modo da bondade. Um brahmana é também conhecido como dvija, que significa “duas vezes nascido”. O primeiro nascimento é meramente biológico e não determina se a pessoa é inteligente ou não. O segundo nascimento está relacionado com a aceitação de um guru, ou mestre espiritual fidedigno. Colocando-se sob as instruções do guru, a pessoa aceita uma vida disciplinada, o que caracteriza sua posição de discípulo. Aprendendo o significado dos textos védicos, a pessoa desenvolve sua verdadeira inteligência pura e as qualidades divinas mencionadas aqui, tais como tranquilidade, autocontrole e tolerância naturalmente se manifestam em tal pessoa. Na verdade, uma pessoa que aceita um mestre espiritual autêntico e segue suas instruções com respeito e dedicação, é realmente afortunada e sua vida se torna decorada com tais qualidades divinas.
Os kshatriyas são a classe administrativa da sociedade e representam os braços do corpo social. Eles são líderes naturais, no entanto, é de se esperar que eles exerçam sua liderança governo sob a orientação dos brahmanas, evitando assim que o modo da paixão estrague tudo. Os kshatriyas também recebem o segundo nascimento, porém, eles recebem um treinamento específico para proteger as leis do dharma e amparar aqueles que foram lesados pelo adharma.
Os vaishyas são a classe mercantil e representam o estômago da sociedade. Eles têm uma inclinação toda especial pelo acúmulo de riquezas. Porém, isto não é o mesmo que ganância material ordinária, pois um verdadeiro vaishya é também dedicado à caridade aos brahmanas renunciados e ocupados em propagar o conhecimento védico. E, finalmente, os shudras, a classe trabalhadora, representa as pernas da sociedade, devendo se ocupar auxiliando as demais ordens sociais. Portanto, nestes versos, o Senhor afirma mais uma vez que os três modos da natureza estão exercendo sua influência implacável em todos os setores da sociedade.
Pérola 102. A PERFEIÇÃO NA EXECUÇÃO DO DEVER (versos 45 a 49)
45. Sujeitando-se às qualidades de seu trabalho, cada um pode tornar-se perfeito. Agora por favor ouça enquanto falo como é que alguém pode tomar essa atitude. 46. Prestando adoração ao Senhor, que é a fonte de todos os seres e que é onipenetrante, o homem pode atingir a perfeição através da execução de seu próprio trabalho. 47. É melhor alguém dedicar-se à sua própria ocupação, mesmo que venha a executá-la imperfeitamente, do que aceitar alguma ocupação alheia e executá-la com perfeição. Os deveres prescritos conforme a natureza da pessoa nunca são afetados por reações pecaminosas. 48. Todo empenho é revestido de algum defeito, assim como o fogo é coberto pela fumaça. Por isso, ninguém deve abandonar o trabalho nascido de sua natureza, ó filho de Kunti, mesmo que esse trabalho seja cheio de defeitos. 49. Quem é autocontrolado e desapegado e não se interessa por nenhum prazer material pode obter, pela prática da renúncia, a fase perfeita mais elevada: estar livre de reação.
Acabamos de analisar as qualidades naturais com as quais as diferentes classes sociais exercem seu trabalho. Aqui, portanto, o Senhor Krishna explica que todos podem alcançar a perfeição de suas vidas simplesmente compreendendo a natureza onipenetrante do Senhor e prestando-Lhe adoração. Quando se compreende claramente que todo ser vivo é parte integrante do Senhor, passa-se compreender também o significado da ocupação em consciência de Krishna. Em outras palavras, não importa a natureza específica através da qual alguém se ocupa socialmente. Ele deve aceitar tal ocupação e executá-la o melhor possível. Além disso, os frutos de tal ocupação devem ser oferecidos para o prazer do Senhor e não para seu próprio gozo dos sentidos. Esta é considerada a perfeição da execução do trabalho.
Na realidade, quando alguém se ocupa dentro da sua natureza, ela permanece tranquila e satisfeita, quer seja como um brahmana ou shudra, ou mesmo um chefe de família ou renunciado. Quando, porém, a pessoa abandona seu dever específico e tenta ocupar uma posição que não condiz à sua natureza, ela age contra os preceitos védicas e sua vida será coberta de erros. Portanto, o Senhor afirma aqui que, mesmo imperfeitamente, a pessoa deve executar seus deveres e seguir sua própria natureza. Agindo dessa forma e oferecendo seu trabalho ao Senhor, chegará o dia em que tal pessoa se aperfeiçoará até o ponto máximo.
Esta instrução é especificamente muito significativa para Arjuna, o qual estava diante de um grande dilema. Sem dúvida, o dever de Arjuna como um kshatriya de defender o dharma ia contra o bem estar de parte de sua família, a qual estava defendendo o exército oponente. Apesar disso, o Senhor Krishna esclarece aqui para Seu discípulo e amigo Arjuna que neste mundo, quando se analisa as coisas do ponto de vista material, não existe perfeição absoluta. O próprio fogo, que é considerado um dos elementos mais puros, é revestido pela fumaça, um elemento muitas vezes indesejável. No entanto, mesmo que as vezes a fumaça cause algum tipo de incômodo, não devemos deixar de usar o fogo e muito menos ele vai deixar de cumprir seu papel apesar das condições incômodas criadas pela fumaça. A essência de tudo é, portanto, agir para satisfazer o Senhor Supremo, tomando todo o cuidado possível para não utilizarmos isto para justificar nossos desejos pessoais. Apesar de existirem situações no cumprimento de nosso dever que poderíamos considerar perturbadoras, ainda assim, devemos continuar fixos em nossa ocupação, sem abandoná-la caprichosamente. Agindo deste modo estaremos compreendendo as coisas do ponto de vista espiritual e estaremos criando condições para, assim, alcançarmos o estágio perfeccional supremo.
Pérola 103. A ETAPA PERFECTIVA SUPREMA (versos 50 a
50. Ó filho de Kunti, aprenda comigo como é que, seguindo o método que agora passo a resumir, alguém que conseguiu esta perfeição pode alcançar a fase de suma perfeição, o Brahman, a etapa do conhecimento mais elevado. 51-53. Tendo uma inteligência que o purifica e controlando a mente com determinação, abandonando os objetos de gozo dos sentidos, estando livre do apego e do ódio, aquele que vive num lugar isolado, que come pouco, que controla seu corpo, mente e poder de fala, que está sempre em transe e que é desapegado, livre do ego falso, da falsa força, do falso orgulho, da luxúria, da ira e que deixou de aceitar coisas materiais, que está livre da falsa idéia de propriedade e é pacífico – este com certeza elevou-se à posição de auto-realização. 54. Aquele que está situado nessa posição transcendental compreende de imediato o Brahman Supremo e torna-se completamente feliz. Ele nunca se lamenta nem deseja ter nada e é equânime para com todas as entidades vivas. Nesse estado, ele passa a Me prestar serviço devocional puro.
Evidentemente, as pessoas comuns ficam surpresas com a descrição dada aqui pelo Senhor que informa o método para se desapegar do mundo do gozo dos sentidos. No entanto, tudo isto foi elaboradamente explicado no decorrer do Bhagavad-gita e, novamente aqui no final desta obra filosófica, o Senhor descreve este mesmo método resumidamente.
Primeiramente, Ele fala sobre a purificação através da inteligência. Ou seja, o primeiro passo é se aproximar de um guru autêntico que siga o sistema de parampara e receber dele instruções transcendentais sobre o conhecimento védico, pois ninguém deve tentar extrair seus próprios significados das escrituras, enquanto se baseia em seu conhecimento imperfeito mundano. O verdadeiro guru nunca faz malabarismos de palavras, pois ele é competente o suficiente para ensinar o discípulo a trilhar o verdadeiro caminho. Na verdade, sem a ajuda de um guru auto-realizado, a pessoa continuará especulando filosoficamente vida após vida, sem chegar a uma conclusão final. Se o discípulo for sincero e seguir as instruções do guru, ele se elevará a o plano de conhecimento perfeito que se manifestará pelo desapego às atividades de gozo dos sentidos. Somente ingressando nesta fase elevada de vida espiritual, é possível entrar nas complexidades da ciência de Deus, e não através de conhecimento gramatical ou especulação acadêmica.
Estando desapegado dos prazeres inferiores dos sentidos, tal pessoa se situa no modo da bondade, onde as dualidades de apego ou ódio não atuam. Estando livre do conceito corpóreo, ela leva uma vida simples e tranquila e prefere manter-se introspectiva, procurando viver num lugar mais silencioso, favorável às práticas espirituais. Sua vida é disciplinada, e ela diminuiu suas propensões materiais corpóreas, tais como comer, dormir, falar, etc. Tal estágio de vida perfeita é chamada tecnicamente de brahma-bhuta, ou seja, o estágio onde a pessoa se situa no transe da auto-realização e não desperdiça seu tempo valioso com atividades insensatas.
Não devemos pensar que esta fase brahma-bhuta significa tornar-se uno com o Absoluto e perder a individualidade. Para deixar este ponto claro, aqui se afirma que, neste estágio, a pessoa atinge a unidade máxima, praticando serviço devocional puro ao Senhor. Em filosofia, isto significa achintya-bhedabheda-tattva, ou seja, a pessoa nesta fase espiritual elevada torna-se una com o Senhor no sentido de que ela alcançou a mesma natureza do Senhor, mas, ao mesmo tempo, a distinção entre Senhor e servo é eternamente mantida. Neste caso, a pessoa sente-se plenamente feliz e nunca encontra motivos para se lamentar ou desejar qualquer outra coisa. O Senhor é a fonte e o reservatório de todo o prazer e praticar serviço devocional puro em plena concepção de unidade significa mergulhar num inesgotável oceano de bem-aventurança.
Pérola 104. O CONHECIMENTO MAIS CONFIDENCIAL (versos 55 a 62)
55. É unicamente através do serviço devocional que alguém pode compreender-Me como sou, como a Suprema Personalidade de Deus. E quando, mediante essa devoção, ele se absorve em plena consciência de Mim, ela pode entrar no reino de Deus. 56. Embora ocupado em todas as espécies de atividades, Meu devoto puro, sob Minha proteção, alcança por Minha graça a morada eterna e imperecível. 57. Em todas as atividades conte apenas comigo e sempre trabalhe sob Minha proteção. Nesse serviço devocional, seja plenamente consciente de Mim. 58. Se você se tornar consciente de Mim, superará por Minha graça todos os obstáculos da vida condicionada. Entretanto, se não trabalhar com essa consciência, mas agir com ego falso e deixar de Me ouvir, você estará perdido. 59. Se você deixar de agir segundo Minha direção e não lutar, então seguirá uma orientação errada. Por sua natureza, você terá de se ocupar na luta. 60. Sob a influência da ilusão, você está agora recusando a agir segundo a Minha direção. Mas, compelido pelo trabalho nascido de sua própria natureza, você acabará fatalmente agindo, ó filho de Kunti. 61. O Senhor Supremo está situado nos corações de todos, ó Arjuna, e está dirigindo as andanças de todas as entidades vivas, que estão sentadas num tipo de máquina feita pela energia material. 62. Ó descendente de Bharata, renda-se completamente a Ele. Por Sua graça, você vai obter paz transcendental e a suprema e eterna morada.
O conhecimento transcendental tem três divisões: o conhecimento do aspecto impessoal de Deus, o conhecimento das Superalma onipenetrante e o conhecimento da Personalidade de Deus. Dos três, o conhecimento transcendental sobre a Personalidade de Deus é superior e tem importância especial, pois só pode ser obtido através do serviço devocional. De fato, pelo desempenho do serviço devocional puro, a pessoa pode conhecer o Senhor como Ele é, e, assim, receber a permissão de entrar em diferentes graus de associação direta com o Senhor. A associação mais elevada e gloriosa com o Senhor torna-se possível em Goloka Vrindavana, o planeta supremo. A descrição de Goloka Vrindavana, onde o Senhor Se diverte com suas consortes, as gopis, e Seus animais prediletos, as vacas surabhi, é dada no texto conhecido como Brahma-samhita, considerado pelo Senhor Chaitanya como o texto mais autêntico dentro desta linha.
Pode ser que, por meio de nosso esforço pessoal, aproximemo-nos do Senhor, mas o objetivo final só poderá ser alcançado pela Sua misericórdia. Desse modo, o devoto mantém-se humilde e devotado ao Senhor, ocupando-se vinte e quatro horas em atividades espirituais. Ele está sempre ouvindo e cantando sobre o Senhor, meditando nEle, oferecendo-Lhe orações ou executando diversos serviços práticos. Estas ocupações devocionais práticas revestem o devoto com uma proteção espiritual, defendendo-o do contato com a energia ilusória inferior. Livrando-se, portanto, da influência da energia ilusória, o devoto puro atinge um estágio tão elevado de consciência de Krishna que, praticamente, não existem mais problemas no curso de sua vida.
Seguir diretamente a instrução do Senhor é, indubitavelmente, a posição mais segura possível e Arjuna estava tendo esta grande oportunidade diante dele. A instrução dada pelo Senhor é que Arjuna deveria lutar simplesmente por uma questão de dever, enquanto, ao mesmo tempo, deveria manter sua consciência espiritual. Como um guerreiro verdadeiro, para Arjuna a luta era algo completamente natural. No entanto, por fraqueza, ele temia a morte de seus parentes e, por ignorância, achava que, se lutasse, estaria agindo pecaminosamente. Seu ponto de vista estava influenciado pela ignorância, pois ele estava desconsiderando a presença da Suprema Personalidade de Deus no Campo de Kurukshetra, o que tornava tudo auspicioso. Portanto, o Senhor Krishna enfatiza para seu amigo Arjuna que se ele relegasse a direção dada por Ele, Arjuna estaria agindo sob a influência da ilusão. Na verdade, a situação criada era tão envolvente que de fato não existia a possibilidade de Arjuna se afastar completamente da batalha. Mesmo que isto viesse a acontecer, devido à sua própria natureza, Arjuna acabaria não suportando ficar de fora da batalha como um covarde. De fato, só restava a Arjuna seguir as instruções impecáveis dadas pelo Senhor Krishna e, assim, se tornar famoso não apenas como um verdadeiro guerreiro, mas também como um devoto glorioso.
Pérola 105. A INSTRUÇÃO SUPREMA (versos 63 a 65)
63. Assim, Eu lhe expliquei o conhecimento bem mais confidencial. Delibere sobre isto detidamente, e então faça o que você deseja fazer. 64. Porque você é Meu queridíssimo amigo, estou falando para você Minha instrução suprema, o mais confidencial de todos os conhecimentos. Ouça enquanto falo isto, pois é para seu benefício. 65. Pense sempre em Mim e converta-se em Meu devoto. Adore-Me e ofereça-Me suas homenagens. Assim, você virá a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isto porque você é Meu amigo muito querido.
O Senhor acabara de transmitir para Arjuna o conhecimento mais confidencial: simplesmente renda-se ao Senhor Supremo e alivie-se de todas as misérias causadas pela vida material. Na verdade, render-se ao Senhor é o interesse supremo de todo ser vivo, pois somente nesta posição de servo rendido ao Senhor, o ser vivo pode se situar numa condição de felicidade plena.
Quem não está em consciência de Krishna está sempre ansioso na luta pela existência material. Tal pessoa é sempre arrastada pelo ego falso e, mesmo estando presa às leis materiais, julga-se independente e livre para tomar suas próprias decisões. Isto é ilusão. Mas, quando age em consciência de Krishna, o ser vivo se volta para seu melhor e verdadeiro amigo. Desse modo, o próprio Senhor Krishna atua diretamente como seu benquerente e toma conta de seu conforto em todos os aspectos. Como foi falado no final do Capítulo Seis, o devoto imaculado está sempre pensando em seu amo, o Senhor Krishna, dentro do coração. Por isso, ele mantém-se intimamente ligado ao Senhor. Este estágio no qual o devoto está sempre absorto em pensamentos sobre o Senhor de uma forma espontânea é a plataforma devocional mais elevada. O Bhagavad-gita também explica que aqueles que não chegaram a este nível, podem manter-se em consciência de Krishna executando seus deveres e oferecendo os frutos em sacrifício ao Senhor. De qualquer modo, se a pessoa mantém-se simplesmente glorificando o Senhor cantando Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare, ela avançará em direção à consciência de Krishna.
Esta é a última fase das instruções do Senhor no Bhagavad-gita, e as pessoas inteligentes devem levá-las muito a sério. As primeiras instruções confidenciais do Senhor começam com o conhecimento do eu. O próximo passo é a compreensão acerca de Deus, que é chamado de conhecimento mais confidencial. Atingindo esta fase, a pessoa passa a se comportar como um devoto e aprende a ajustar suas vida de uma tal maneira que sua consciência de Krishna adormecida possa ser despertada. Tais atividades ajustadas para o cultivo da consciência de Krishna são chamadas de serviço devocional e baseiam-se no amor a Deus. Tais atividades são transcendentalmente naturais e espontâneas, ao contrário da natureza da rotina das práticas de karma-yoga, jñana-yoga ou dhyana-yoga. No Bhagavad-gita, portanto, encontramos diferentes instruções para diferentes categorias de pessoas. Há descrições sobre os deveres dos chefes de famílias, dos renunciados, dos kshatriyas ou brahmanas, aceitação do guru, meditação, etc. Entretanto, quando alguém chega ao ponto de se entregar ao Senhor e passa a serví-lO com amor espontâneo, compreende-se que ela foi capaz de assimilar a essência de todo o conhecimento não apenas do Bhagavad-gita, mas, também, de todos os Vedas.
Neste Capítulo Dezoito fica claro que o êxito completo no caminho espiritual é obtido pela consciência de Krishna, o processo mais elevado de yoga. No Capítulo Seis, o Senhor explicou o processo de dhyana, ou meditação, para Arjuna, que o rejeitou. Na verdade, a despeito de todo o encanto na prática da yoga mística, é muito difícil que um homem comum possa praticá-la. Isto significa que, por incrível que pareça, o mais elevado processo de yoga também se tornou, especialmente nesta era, como o mais fácil – simplesmente fixar a mente no Senhor enquanto se canta o maha-mantra Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare.
Devemos, portanto, ser práticos e objetivos, não desperdiçando nosso tempo valioso unicamente com cursos de posturas ióguicas ou ginásticas. Evidentemente, isto tem seu valor à nível físico e mental, mas não se trata de verdadeira yoga. Aqui o Senhor diz claramente que a consciência de Krishna é a yoga mais elevada, pois em consciência de Krishna o devoto passa a agir sob as ordens de Krishna, além da plataforma material. No começo, o devoto segue as instruções do guru, que é o meio transparente no qual o Senhor Se manifesta. À medida que avança em fé e conhecimento, as percepções espirituais e sentimentos devocionais afloram no devoto e o processo se torna ainda mais firme e consistente. Neste ponto, o devoto passa a receber instruções diretas da Superalma que está dentro dele, ao passo que, externamente, continua sendo auxiliado pelo mestre espiritual. Esta é a perfeição do processo da yoga dada no Bhagavad-gita.
Pérola 106. A PERFEIÇÃO DA RENÚNCIA (versos 66 a 69)
66. Abandona todas as variedades de religião e simplesmente rende-te a Mim. Eu te libertarei de todas as reações pecaminosas. Não temas. 67. Este conhecimento confidencial jamais pode ser explicado àqueles que não são austeros, nem devotados, nem se ocupam em serviço devocional, e tampouco a alguém que tenha inveja de Mim. 68. Para aquele que explica aos devotos este segredo supremo, o serviço devocional puro está garantido, e no final, ele voltará a Mim. 69. Não há neste mundo servo que Me seja mais querido do que ele, tampouco jamais haverá alguém mais querido.
Se, ao estudar o Bhagavad-gita, alguém decide dedicar sua vida a Krishna, tal pessoa se livra imediatamente de todas as reações pecaminosas. Este é o verdadeiro princípio religioso que todos devem seguir. Pode ser que alguém estude toda a literatura védica, mas não possa compreender este princípio transcendental, por que, na verdade, trata-se de um conhecimento confidencial que não é apanágio de todos. O próprio Arjuna havia afirmado que nem mesmo os semideuses dos planetas celestiais podem compreender este tópico muito bem, muito menos os seres humanos. A única maneira de ter acesso a ele, como ficou claro em todo o Gita, é através do representante especial do Senhor, um mestre espiritual completamente auto-realizado e devotado ao Senhor. O mestre espiritual tem a capacidade de iluminar o discípulo, tornando-o perfeito ao convencê-lo que a essência da vida religiosa está em cumprir as ordens da Suprema Personalidade de Deus. Deve-se entender claramente que o mestre espiritual é o representante do Senhor e, desse modo, não há diferença entre satisfazer o mestre espiritual ou o Senhor, pois tanto ele quanto o Senhor Krishna falam os mesmos ensinamentos transcendentais. Satisfazendo-se o guru, satisfaz-se também o Senhor.
O cativeiro material é decorrente do fato de se ter executado atividades pecaminosas passadas. Mas, ninguém precisa ficar preocupado com tal cativeiro material, pois o Senhor assegura que pessoalmente cuidará de Seu devoto, salvando-o das reações pecaminosas. Uma vez que o Senhor cancelará o karma passado, é melhor que a pessoa aceite a guia do mestre espiritual e se preocupe unicamente com a boa execução do seu serviço devocional e confie na misericórdia do Senhor. Ao moldar sua vida de acordo com as instruções do mestre espiritual, a pessoa passa a levar uma vida austera e disciplinada. A raiz da existência material é a ignorância, a qual se manifesta como indiferença ao serviço devotado ao Senhor. Esta indisposição à execução do serviço devocional se deve ao ego falso, o qual é movido pela inveja do Senhor e está sempre querendo colocar sua vítima na posição de controlador ou desfrutador independente. O mestre espiritual, portanto, ilumina o verdadeiro discípulo sobre sua posição como servo do Senhor e o instrui a ocupar-se corretamente, eliminando, assim, a ignorância e o ego falso de seu discípulo. Por explicar as complexidades do serviço devocional ao discípulo e desvendar os mistérios sobre a ciência de Deus, o mestre espiritual presta o mais valioso de todos serviços e, por isso, é considerado como o servo mais querido do Senhor.
Na verdade, ocupa a posição mais gloriosa neste mundo alguém que se dedica a criar oportunidades para ajudar as pessoas a se livrarem da existência material e a se tornarem conscientes de Krishna. Isso é completamente aprovado pelo Senhor Chaitanya, que ordenou a todos que primeiramente se purificassem, aceitando este movimento para a consciência de Krishna, e, depois disso, o divulgassem por todo o mundo. Tal ocupação constitui a verdadeira atividade beneficente e torna tal pessoa reconhecida pela Suprema Personalidade de Deus.
Pérola 107. A ILUSÃO DE ARJUNA É DISSIPADA (versos 70 a 73)
70. E declaro que aquele que estuda esta nossa sagrada conversa adora-Me com sua inteligência. 71E aquele que ouve com fé e sem inveja livra-se das reações pecaminosas e alcança os planetas auspiciosos onde residem os seres piedosos. 72. Ó filho de Pritha, ó conquistador de riquezas, será que ouviste isto com a mente atenta? E acaso tua ignorância e ilusões já se dissiparam? 73. Arjuna disse: Meu querido Krishna, ó pessoa infalível, agora minha ilusão se foi. Por Tua misericórdia, recuperei minha memória. Agora me sinto firme e não tenho dúvidas e estou preparado para agir segundo Tuas instruções.
A melhor maneira de purificar a inteligência é ocupá-la no estudo do Bhagavad-gita. A função da inteligência é discriminar entre o certo e o errado, o que deve ser feito e o que não deve ser feito, o que libera e o que enreda. No entanto, a alma condicionada está sujeita a tantas ilusões e erros que tem grande dificuldade em fazer uso correto de sua inteligência. Na verdade, como foi explicado pelo Senhor no Capítulo Três, a inteligência do ser vivo neste mundo está sempre contaminada pela influência do modo da paixão. Agindo em parceria com a mente luxuriosa, a inteligência da alma condicionada está sempre ocupada em fazer planos para o gozo dos sentidos. O Bhagavad-gita, portanto, foi falado pelo Senhor para livrar a pessoa desta propensão material. Recebendo este conhecimento absoluto, a pessoa se ilumina à ponto de reduzir gradualmente todas as suas reações pecaminosas passadas, assim como o fogo reduz a lenha em cinzas.
Desse modo, como parte do dever de mestre espiritual de Arjuna, o Senhor Krishna pergunta se ele realmente havia se purificado através do conhecimento transcendental e tinha se livrado das dúvidas e da ignorância. Caso contrário, Ele estaria pronto a repetir novamente este conhecimento. Em resposta à pergunta do Senhor, Arjuna mostrou-se pronto para, finalmente, executar seu dever com conhecimento transcendental. As palavras finais de Arjuna são maravilhosas e servem-nos como grande exemplo. Como vimos durante todo o Bhagavad-gita, Arjuna mostrou ser um perfeito estudante. Seu primeiro exemplo foi ainda no começo do Segundo Capítulo (verso sete) quando Arjuna admitiu sua fraqueza e incapacidade de resolver seu grande dilema. Neste momento, ele se aproximou do Senhor Krishna com atitude humilde e pediu ajuda. Ele se colocou na posição de uma alma rendida, um discípulo confuso e desejoso de ser iluminado. Como sabemos, o Senhor tentou corrigir a mentalidade materialista de Seu discípulo, derramando-lhe muitas classes de conhecimentos transcendentais. Ainda assim, Arjuna mostrou que não era uma pessoa desequilibrada e fanática, pronta a aceitar toda e qualquer instrução sentimentalmente. Completamente livre de atitude desafiadora, mas, ao mesmo tempo, revelando um interesse genuíno em compreender a verdade, Arjuna foi revelando ao seu mestre espiritual qualquer dúvida que surgisse no transcurso da conversa transcendental. Por outro lado, o Senhor revelou o exemplo perfeito de um mestre espiritual imaculado, dando respostas perfeitas com muita inteligência e paciência para eliminar as dúvidas de Seu discípulo sincero. Agora, finalmente, Arjuna deixa claro que toda a sua ilusão material foi dissipada e ele atribui isto à misericórdia do Senhor. Na verdade, Arjuna recobrou sua consciência de Krishna e pôde entender que além, de amigo e mestre espiritual, o Senhor Krishna era a infalível Suprema Personalidade de Deus que todos devem adorar e obedecer completamente. Desse modo, Arjuna situou-se firmemente em sua posição constitucional de servo do Senhor e manteve-se firme para executar seu dever prescrito de participar da batalha no sagrado campo de Kurukshetra e, assim, ajudar o Senhor na Sua missão de proteger os devotos e aniquilar os indivíduos indesejáveis.
Pérola 108. O ÊXTASE DE SAÑJAYA (versos 74 a 78)
74. Sañjaya disse: Assim foi que ouvi a conversa entre duas grandes almas, Krishna e Arjuna. E tão maravilhosa é esta mensagem que os pêlos de meu corpo estão arrepiados. 75. Pela misericórdia de Vyasa, ouvi diretamente do senhor de todo o misticismo, Krishna, estas palavras muito confidenciais que Ele mesmo estava dirigindo a Arjuna. 76 Ó rei, à medida que vou recordando este magnífico e santo diálogo transcorrido entre Krishna e Arjuna, sinto prazer e a cada momento fico emocionado. 77. Ó rei, ao lembrar a maravilhosa forma do Senhor Krishna, sinto uma admiração cada vez maior e me regozijo repetidas vezes. 78. Onde quer que esteja Krishna, o Senhor de todos os místicos, e onde quer que esteja Arjuna, o arqueiro supremo, com certeza também haverá opulência, vitória, poder extraordinário e moralidade. Esta é a minha opinião.
A conclusão do Bhagavad-gita não poderia ser outra: onde quer que o Senhor Krishna, a fonte de todo o conhecimento e misericórdia, estiver presente, e onde quer que se encontrar um seguidor perfeito do Senhor, como Arjuna, certamente tudo será vitorioso e auspicioso.Arjuna é aqui chamado de arqueiro supremo não apenas por sua habilidade em manejar seu arco Gandiva, mas também devido à sua capacidade de estabelecer-se firmemente fixo na meta mais elevada, a consciência de Krishna. Como um estudante perfeito, Arjuna pode entender que, além da Batalha de Kurukshetra na qual ele teria que participar, existia uma outra batalha, a batalha interior, cujos inimigos haviam se posicionado estrategicamente dentro dos sentidos, da mente e da inteligência materiais.
Como foi explicado no Terceiro Capítulo (versos 37-40), o verdadeiro inimigo da alma condicionada é a luxúria, a qual não passa de um reflexo pervertido do amor puro por Deus. Impulsionado pela luxúria, um ser vivo rejeita as instruções dadas pelo Senhor, quer sejam através do mestre espiritual, das escrituras védicas ou da Superalma onipresente. A luxúria ilude o ser vivo, fazendo-o julgar-se independente do Senhor. Esta luxúria é também responsável pelas atividades pecaminosas do ser vivo que, incapaz de refrear o impulso de seus sentidos materiais, ocupa-se em toda classe de atividades mundanas. Os Upanishads fazem uma excelente comparação entre a condição de um passageiro dentro de uma carruagem e a situação da alma condicionada dentro de um corpo. Lá se explica que, assim como uma carruagem é arrastada por cinco cavalos, o corpo é arrastado pelos cinco sentidos. As rédeas desta carruagem do corpo é a mente, a qual mantém-se conectada com os cavalos dos sentidos. A posição da inteligência é a de condutora da carruagem, enquanto a alma espiritual é simplesmente o seu passageiro.
Como sabemos, o Senhor Krishna estava atuando simplesmente como o condutor da carruagem do guerreiro Arjuna. Isto por que Ele sabia que Arjuna teria dificuldades de controlar os “cavalos” dos sentidos. Neste mesmo capítulo, o Senhor afirmou que os seres vivos estão sentados numa máquina feita de energia material, ou seja, o corpo material, enquanto Ele Se senta no coração e põe-Se à dirigir. Deste modo, alcança a perfeição no estudo do Bhagavad-gita aquele que passa a aceitar o Senhor como o condutor de sua vida. Isto significa que sua vida passa a ser dirigida pelos ensinamentos dados pelo Senhor no Bhagavad-gita.
Na verdade, o Bhagavad-gita foi falado pelo Senhor não apenas para eliminar a ilusão de Arjuna. O Bhagavad-gita visa o benefício de todas as pessoas, em todas as épocas e condições. Sendo a essência do conhecimento védico, Ele foi apresentado pelo Senhor especialmente para as pessoas desta era de Kali, as quais têm pouquíssimo tempo para dedicar-se às vastas pesquisas dos textos védicos, tais como os Puranas, Upanishads e Vedanta-sutra. É importante entendermos também que a verdadeira posição de Arjuna era transcendental, ou seja, ele era um devoto puro do Senhor que simplesmente representou o papel de uma alma condicionada materialmente. Portanto, os problemas que surgiram no coração de Arjuna existem nos corações de todos os seres corporificados. Desse modo, o mesmo apego ao conceito corpóreo que fez com que Arjuna se esquecesse do controle supremo do Senhor e caísse em profunda lamentação acontece com as almas que estão neste mundo. Além disso, a mesma fraqueza no cumprimento do dever, o temor à morte, e outras diferentes agonias mentais que não passam de manifestações da ilusão se apresentam freqüentemente nos seres corporificados. O propósito do Bhagavad-gita é fornecer instruções claras e objetivas para todos e é um livro prático que deve ser consultado em todos os momentos críticos da vida. Assim como o próprio Senhor, o Bhagavad-gita é nosso melhor amigo e pode nos consolar em todos nossos momentos de fraqueza, nos elevando ao nível de bem-aventurança espiritual. Certamente, estudando profundamente o Bhagavad-gita, iremos encontrar sempre as melhores soluções para qualquer tipo de problema.
As palavras finais do Bhagavad-gita são faladas por Sañjaya. Como podemos lembrar, o Bhagavad-gita começa com a pergunta do rei Dhritarastra para Sañjaya. Ele queria especificamente saber qual seria o resultado da grande batalha entre seus filhos e os filhos de seu falecido irmão Pandu. Portanto, aqui Sañjaya definitivamente responde ao rei: os Pandavas, sob o comando de Arjuna sairão completamente vitoriosos, devido especialmente à proteção do infalível Senhor Krishna. Na verdade, neste momento final do Gita, Sañjaya mal pode se controlar. Completamente maravilhado com o que acabar de escutar, os pêlos de seu corpo ficam eriçados e ele fica profundamente emocionado. Tudo indica aqui que Sañjaya também alcançou o estado mais elevado de consciência, ficando em êxtase por ter tido a oportunidade de ouvir o maravilhoso e transcendental diálogo entre Krishna e Arjuna. Esta é a característica do Bhagavad-gita. O Senhor é tão misericordioso que está Se oferecendo a todos através desta grande literatura. Isto significa que, mesmo estando fora de nossa visão atual, a associação com Ele pode ser possível através da leitura do Gita. Portanto, devemos concluir com muita segurança que, se estudarmos minuciosamente o Bhagavad-gita coma ajuda do mestre espiritual genuíno, poderemos alcançar a perfeição no conhecimento e obteremos o mesmo benefício que Arjuna obteve na presença pessoal do Senhor. O Bhagavad-gita é, portanto, considerado como uma poderosa encarnação sonora do Senhor, pois não há diferença entre o Bhagavad-gita e o próprio Senhor em pessoa, assim como não há diferença entre o Senhor e Seus santos nomes, Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare. Om Tat Sat.
Marcadores: CAPÍTULO XVIII: A Perfeição da Renúncia
technorati: CAPÍTULO XVIII: A Perfeição da Renúncia
CAPÍTULO XVII: As Divisões da Fé
CAPÍTULO XVII: As Divisões da Fé
Pérola 87. AS TRÊS CATEGORIAS DE FÉ (versos 1 ao 4)
1. Arjuna perguntou: Ó Krishna, em que situação ficam aqueles que não seguem os princípios da escritura, mas adoram segundo sua própria imaginação? Estão eles em bondade, paixão ou ignorância? 2. A Suprema Personalidade de Deus disse: Conforme os modos da natureza adquiridos pela alma corporificada, sua fé pode ser de três espécies – na bondade, na paixão ou na ignorância. Agora ouça enquanto falo sobre isso. 3. Ó filho de Bharata, conforme sua existência sob os vários modos da natureza, o homem desenvolve determinada espécie de fé. Conforme os modos com os quais conviveu, o ser vivo tem uma fé específica. 4. Os homens no modo da bondade adoram os semideuses; aqueles que estão no modo da paixão adoram os demônios; e aqueles que vivem no modo da ignorância adoram fantasmas e espíritos.
No final do capítulo anterior, o Senhor deixou claro que as pessoas de natureza demoníacas podem se libertar da situação abominável que se encontram, seguindo os métodos prescritos nas escrituras védicas com fé e convicção. No entanto, a fé específica de cada um depende do resultado acumulado das atividades que a pessoa executou em muitas vidas prévias, o que também define a influência específica que ela receberá dos modos da natureza material. Considerando tudo isto, Arjuna no início deste capítulo levanta uma importante questão. Ela quer saber qual a posição das pessoas que não têm conhecimento perfeito e que não seguem os princípios das escrituras védicas, mas, com boa intenção, executa um tipo de adoração criado por elas mesmas. Elas poderão alcançar a perfeição da vida? Tal adoração está na ignorância, paixão ou bondade? Em resposta a esta inteligente pergunta, o Senhor Krishna apresenta este Décimo Sétimo Capítulo.
Ficou bastante claro que o ser vivo tem se associado com a natureza material por muitas vidas e, conforme esta associação, ele desenvolve uma mentalidade específica sob a influência dos modos da natureza material. No entanto, com a associação de pessoas iluminadas em conhecimento védico, especialmente com um mestre espiritual auto-realizado, tanto sua natureza quanto sua mentalidade poderão mudar, e ele poderá avançar em qualidades divinas e espirituais e recuperar sua natureza constitucional, a qual é completamente transcendental a influência dos três modos da natureza material. Uma vez situado nesta posição transcendental, costuma-se dizer que tal pessoa está em bondade pura, ou bondade espiritual, estando assim purificada e qualificada para compreender a verdadeira natureza da Suprema Personalidade de Deus. De outro modo, sob a influência da ignorância, paixão ou mesmo bondade material, a pessoa manifestará um tipo de fé sujeita a contaminação do modo (ou, dos modos) da natureza que a está exercendo influência. Por isso, existem diferentes espécies de fé e, conseqüentemente, diferentes classes de religião correspondentes aos modos materiais da natureza. Embora a Suprema Personalidade de Deus seja o verdadeiro e perfeito objeto de fé e o objeto máximo de adoração, ainda assim, a grande maioria das pessoas, estando contaminados pelos modos da natureza material, não pode compreender e aceitar este fato.
Sob a influência do modo da bondade, as pessoas geralmente adoram os semideuses, tais como Shiva, Indra, Surya etc., em troca de benefícios pessoais. O modo da paixão induz a pessoa a adorar seres humanos demoníacos, tais como políticos poderosos, militares ou mesmo artistas e esportistas; e, finalmente, no modo da ignorância, se executa adoração aos seres fantasmagóricos e maus espíritos.
Pérola 88. AUSTERIDADES E PENITÊNCIAS DEMONÍACAS (versos 5 a 6)
5-6. Aqueles que se submetem a rigorosas austeridades e penitências não recomendadas nas escrituras, executando-as por orgulho e egoísmo, que são impelidos pela luxúria e apego, que são tolos e que torturam os elementos materiais do corpo bem como a Superalma que mora no interior deste, devem ser conhecidos como demônios.
Os homens demoníacos pensam que, ao criarem suas próprias austeridades e penitência, conseguirão fazer com seus inimigos ou adversários sejam conquistados e, sob a influência da ignorância e paixão mundanas, praticam a autotortura. Porém, as escrituras védicas não recomendam austeridades ou penitências para a obtenção de propósitos de interesses pessoais. A prática de jejum é um bom exemplo disto, pois o seu verdadeiro propósito é a purificação e o avanço espiritual, e nunca deve ser utilizada para um fim político ou interesse social. Além disso, as escrituras nos orientam que a prática de jejum deve ser executada em dias específicos e sob certas condições auspiciosas e não quando se bem entenda. Portanto, o jejum que não visa exclusivamente o avanço espiritual e que não é normatizado pelas escrituras é uma verdadeira perturbação para a sociedade e é uma prática característica dos demônios. Além de insultar a Personalidade de Deus, o compilador dos Vedas, o jejum não recomendado nas escrituras, perturba a Superalma que habita o corpo.
Pérola 89. AS TRÊS CLASSES DE SACRIFÍCIOS E ALIMENTOS (versos 7 a 13)
7. Mesmo o alimento que cada pessoa prefere é de três espécies, conforme os três modos da natureza material. O mesmo se aplica aos sacrifícios, às austeridades e à caridade. Agora ouça enquanto falo sobre as distinções que há entre eles. 8. Os alimentos apreciados por aqueles que estão no modo da bondade aumentam a duração da vida, purificam a existência e dão força, saúde, felicidade e satisfação. Semelhantes alimentos são suculentos, gordurosos, saudáveis e agradáveis para o coração. 9. Alimentos que são muito amargos, muito acres, salgados, quentes, picantes, secos e ardentes são apreciados por quem está no modo da paixão. Tais alimentos causam sofrimento, miséria e doença. 10. Alimento preparado mais do que três horas antes de ser ingerido, alimento insípido, decomposto e putrefato, e alimento que consiste em refugos e substâncias intocáveis atrai aqueles que estão no modo da escuridão. 11. Dos sacrifícios, é da natureza da bondade o sacrifício que por uma mera questão de dever é executado conforme as direções das escrituras por aqueles que não desejam nenhuma recompensa. 12. Mas deves saber que o sacrifício executado em troca de algum benefício material, ou por causa do orgulho, ó principal dos Bharatas, está no modo da paixão. 13. Considera-se que todo sacrifício executado sem que se levem em consideração as direções das escrituras, sem que se distribua prasadam (alimento espiritual), sem que se cantem os hinos védicos, sem que se remunerem os sacerdotes e sem que se tenha fé, está no modo da ignorância.
A alimentação exerce uma influência definitiva nas pessoas, por isso, os Vedas prescrevem a alimentação perfeita para que se possa, através dela, avançar rumo ao caminho da auto-realização espiritual. Evidentemente, a alimentação adequada é aquela que está sob a influência do modo da bondade, pois além de aumentar a duração da vida e dar força ao corpo, o alimento no modo da bondade purifica a mente, e, uma vez logrando-se a purificação da mente, pode-se mais facilmente exercer controle sobre ela. A alimentação no modo da bondade, portanto, não visa o mero gozo do sentido da língua de um modo inconseqüente. A pessoa no modo da bondade regula a qualidade e a quantidade da sua alimentação e não cai vítima dos ditames da língua. Sua alimentação básica são os grãos integrais, frutas, vegetais e os produtos lácteos, os quais fornecem a gordura animal e eliminam a prática subumana e abominável da matança dos animais. Uma consideração igualmente importante é a consciência na qual se prepara o alimento, pois o estado de consciência da pessoa no momento do preparo é, até certo ponto, transmitido para a alimentação. Para que, portanto, a alimentação seja pura e cumpra seus verdadeiros propósitos, a pessoa de estar com seu corpo limpo externamente e com sua mente pura, absorta em pensamentos divinos – isso é o modo da bondade. No entanto, existe o alimento transcendental, ou seja, o alimento em bondade pura. Este alimento é considerado o alimento supremo e é conhecido como prasadam, a misericórdia do Senhor. Quando a pessoa preparar o alimento não para seu próprio gozo dos sentidos, mas para comprazer o Supremo e segue o padrão puro de alimentação estabelecido na literatura védica (isto é, não utiliza carnes, peixes, ovos ou bebidas alcoólicas) e, ao mesmo tempo, oferece-o com devoção ao Senhor, tal alimento torna-se completamente transcendental e, além de extremamente saboroso e apreciável por todos, fonte de grande inspiração espiritual e purificação mental. O ideal é que a pessoa absorva-se em cantar o maha-mantra Hare Krishna enquanto cozinha, pois isto ajudará a pessoa a ter sua mente limpa e controlada.
Ao contrário da alimentação no modo da bondade que produz saúde ao corpo, os alimentos no modo da paixão causam sofrimento e, posteriormente, doenças. Tais alimentos são picantes e apimentados, exageradamente salgados e muito amargos. Apesar disto, quando não são misturados com as substâncias abomináveis do modo da ignorância (especificamente, carne, peixes e ovos) eles podem ser purificados e oferecidos ao Senhor, tornando-se prasadam, pois dependendo da condição física de uma determinada pessoa, as vezes tais alimentos agem como remédios. No entanto, os alimentos no modo da ignorância devem ser considerados intocáveis, tais como a carne animal e as bebidas alcoólicas. Basicamente, os alimentos no modo da ignorância nunca são frescos, exalam mau odor, estão num estado de decomposição e, por isto, exercem uma péssima influência para aqueles que o ingerem, aumentando ainda mais sua propensão às atividades influenciadas pela ignorância.
Aqui também se faz menção dos diferentes modos que se executa sacrifícios. Basicamente, a pessoa no modo da bondade executa sacrifício sem esperar alguma recompensa material. Ela possui fé no Senhor e executa os deveres religiosos encontrados nas escrituras que foram adotadas por ela. Independente do resultado, tal pessoa civilizada visita o templo ou a igreja de uma forma discreta e faz sua adoração regulada ao Senhor de maneira respeitosa e honesta. No entanto, no modo da paixão, a pessoa também adora o Senhor, mas não possui desapego. Tal pessoa invertem sua posição com a posição de Deus. Em outras palavras, ela quer que Deus a sirva e está sempre à espera de promoções materiais. No modo da paixão, tem-se muito orgulho de ter-se adotado uma posição religiosa e busca-se prestígio com isto e, na maioria dos casos, o modo da paixão faz com que a pessoa aja de modo sentimental ou fanático. No modo da ignorância, a situação ainda é pior. Neste caso, o executor de sacrifício age segundo sua própria determinação, pois não aceita (e, muito menos, segue) a direção de nenhuma escritura. Executado sem nenhuma fé, tais sacrifícios são típicos das pessoas no modo da ignorância.
Pérola 90. AS AUSTERIDADES DO CORPO, DA MENTE E DA FALA (versos 14 a 19)
14. A austeridade do corpo consiste em adorar o Senhor Supremo, os brahmanas, o mestre espiritual e os superiores, tais como o pai e a mãe, e em limpeza, simplicidade, celibato e não-violência. 15. A austeridade da fala consiste em proferir palavras verazes, agradáveis, benéficas e que não perturbam aos outros, e também em recitar regularmente a literatura védica. 16. E satisfação, simplicidade, gravidade, autocontrole e purificação da existência são as austeridades da mente. 17. Estas três espécies de austeridade, executadas com fé transcendental por quem não espera benefícios materiais mas que atua apenas por amor ao Supremo, chamam-se austeridades em bondade. 18. Afirma-se que a penitência executada por orgulho e com o intuito de ganhar respeito, honra e adoração está no modo da paixão. Não é estável nem permanente. 19. Penitência executada por tolice, com autotortura ou visando a destruir ou ferir os outros se diz que está no modo da ignorância.
O verdadeiro propósito das austeridades é afastar a pessoa gradualmente de uma vida desregulada de gozo dos sentidos e, para que isto seja possível, o Senhor aqui enfatiza a importância das austeridades do corpo, da mente e da fala. Deve-se, portanto, utilizar o corpo especialmente para se prestar respeito ao Senhor e aos Seus representantes, tais como os brahmanas, o mestre espiritual e os nossos pais. Quanto ao respeito aos pais, isto é mais do que óbvio, já que sem a união deles, o nosso corpo não existiria. No entanto, a obtenção de um corpo físico é só o começo, pois tem-se que submeter ao segundo nascimento, que é dado pelo mestre espiritual, ou guru, através da iniciação espiritual. Sem aceitar a iniciação de um mestre espiritual, não se torna possível um cultivo perfeito de conhecimento e não se pode sair da plataforma material de existência. Portanto, com respeito e consideração, deve-se oferecer respeitos e reverências ao mestre espiritual e vê-lo como um importante representante de Deus. Os sacerdotes brahmanas são a classe de pessoas sob a influência da bondade e se responsabilizam também pela disseminação do conhecimento védico, por isto sua função é altamente respeitável. No corpo social, eles representam a cabeça da sociedade e é dito que o Senhor ministra instruções através das bocas dos brahmanas. O modo de adoração a Deus mais adequado para esta era de Kali é o canto constante dos Seus santos nomes, especialmente o canto do maha-mantra Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare que limpa o coração de toda a poeira do materialismo que se acumulou em nossos corações por vidas. Simplicidade significa que não se deve perder tempo com a obtenção desnecessária de diferentes parafernálias para o gozo dos sentidos. Devemos executar nosso dever da melhor maneira possível e não se deixar levar pela expectativa de resultados positivos. Deve-se, portanto, depender da misericórdia do Senhor. O corpo material está sempre exigindo gozo dos sentidos, especialmente o prazer sexual. No entanto, para uma pessoa que aceita a auto-realização espiritual como a meta da vida, tal prazer sexual é considerado um verdadeiro empecilho por que intensifica a identificação com o corpo material. O ideal é uma vida de castidade, livre de atividades sexuais. Mas também aceita-se a hipótese de uma vida de celibato, onde a vida sexual é permitida dentro de um casamento com o propósito de estabelecer uma família pura em consciência de Krishna, pois o casamento verdadeiramente religioso presta-se a regular a mente para outorgar a paz necessária para o avanço espiritual.
A tendência da fala é muito forte e o seu bom ou mau uso produz resultados diferentes como, por exemplo, construir ou destruir amizades, inspirar ou desmotivar pessoas e, finalmente, iluminá-las ou obscurecê-las. Por isso, o Senhor aqui faz menção da importância da austeridade da fala. O mais importante é praticar a veracidade falando apenas aquilo que se encontra nas escrituras autorizadas. Por este motivo, compreende-se que, antes mesmo de falar, a pessoa tem que praticar a austeridade de ouvir de fontes autorizadas e, ao mesmo tempo, não dar sua própria interpretação baseada em interesses pessoais. A pessoa deve ser cautelosa em não agitar a mente dos outros, prejudicando o processo natural de avanço espiritual que cada um se encontra e, além disso, deve se preocupar em apresentar as coisas de uma forma agradável e doce.
A mente deve ser treinada para ser uma aliada à pessoa no processo de purificação da consciência de Krishna. Para isto, é importante que se busque satisfação espiritual nas atividades da consciência de Krishna, evitando ao máximo o gozo mundano dos sentidos. Evidentemente, a mente está sempre interessada em prazer. Mas, devemos aprender a manter a mente satisfeita com um modo de vida simples, cultivando pensamentos elevados, pois faz parte do conhecimento espiritual a percepção de que, quanto mais nos absorvermos em gozo dos sentidos, mais nossa mente ficará insatisfeita. A vida moderna é um exemplo adequado para isto, onde criou-se um sem fim de objetos para o prazer dos sentidos. No entanto, as mentes dos homens modernos estão mais insatisfeitas e descontroladas do que nunca.
A conclusão é que devemos executar todas estas austeridades (do corpo, da fala e da mente) para progredirmos em consciência espiritual e, assim, alcançarmos resultados permanentes. De outro modo, mesmo estas austeridades serão inúteis no que diz respeito ao progresso espiritual, caso sejam executadas por uma questão de orgulho, materialmente motivadas ou com interesses demoníacos.
Pérola 91. AS TRÊS CLASSES DE CARIDADES (versos 20 a 22)
20. A caridade dada por dever, sem expectativa de recompensa, no local e hora apropriados e dada a alguém digno, está no modo da bondade. 21. Mas a caridade executada com expectativa de alguma recompensa, ou com desejo de resultados fruitivos, ou com má vontade, diz-se que é caridade no modo da paixão. 22. E a caridade executada em lugar impuro, em hora imprópria e feita a pessoas indignas ou sem a devida atenção e respeito diz-se que está no modo da ignorância.
A caridade é uma prática importante e saudável e pode nos ajudar muito no processo de auto-realização. No entanto, é preciso aprender a praticá-la com completa discriminação. O ideal é praticar a caridade para as pessoas renunciadas, pelo prazer de vê-las ocupadas exclusivamente no serviço devocional ao Senhor. Além disso, tal caridade deve estar isenta de expectativa de recompensa pessoal, pois esta atitude caracteriza o modo da paixão. Existem vários lugares sagrados de peregrinação e geralmente é lá que encontramos as pessoas adequadas para receberem caridade. Por outro lado, a caridade feita aos brahmanas e vaishnavas sempre é recomendada, pois, devido a suas ocupações espirituais constantes, suas presenças auspiciosas transformam qualquer lugar mundano em um lugar de peregrinação.
A execução de caridades em troca de elevação aos planetas celestiais superiores ou em troca de resultados fruitivos não é recomendada nas escrituras e também nunca se deve executar austeridades apenas por ordem de alguém ou com má vontade. Fazer doações à pessoas ocupadas no gozo dos sentidos e em atividades pecaminosas é ignorância e não é benéfica nem para quem executada tal caridade, nem para quem a recebe. Pelo contrário, torna-se um estímulo para o incremento de mais atividades pecaminosas. O ideal, portanto, é executar caridades para os devotos do Senhor ocupados em propagar Suas glórias. Neste caso, o resultado se torna absolutamente positivo e toda a sociedade ganha com isto. Na verdade, a caridade espiritual é considerada a atividade mais auspiciosa para um ser humano, através da qual pode-se distribuir literatura transcendental, alimento espiritual, prasadam, ou os santos nomes do Senhor, especialmente o maha-mantra Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare. Neste caso, pode-se distribuir tais caridades em quantidades profusas, e sem a menor discriminação quanto a qualificação dos recebedores, pois trata-se de um conceito diferente, baseado no sentimento transcendental de compaixão e misericórdia a todos os seres vivos.
Pérola 92. AS PALAVRAS SAGRADAS “OM TAT SAT” (versos 23 a 28)
23. Desde o começo da criação, as três palavras “om tat sat” foram usadas para indicar a Suprema Verdade Absoluta. Estas três representações simbólicas eram usadas pelos brahmanas enquanto cantavam os hinos dos Vedas e durante os sacrifícios que eles executavam para a satisfação do Supremo. 24. Portanto, para alcançar o Supremo, os transcendentalistas, empreendendo a execução de sacrifícios, caridade e penitências conforme as regulações das escrituras, inicialmente sempre pronunciam o om. 25. Com a palavra tat, deve-se executar várias espécies de sacrifício, penitência e caridade sem desejar resultados fruitivos. O propósito dessas atividades transcendentais é livrar-se do enredamento material. 26-27. A Verdade Absoluta é o objetivo do sacrifício devocional, e é indicada pela palavra sat. O executor deste sacrifício também é chamado “sat”, assim como o são todas as obras de sacrifício, penitência e caridade que, em harmonia com a natureza absoluta, são executadas para agradar à Pessoa Suprema, ó filho de Pritha. 28. Tudo aquilo que é feito como sacrifício, caridade ou penitência sem fé no Supremo, ó filho de Pritha, é impermanente. Chama-se asat e é inútil tanto nesta vida quanto na próxima.
Estas três palavras, om tat sat, são freqüentemente encontradas nos hinos védicos e se referem especialmente a Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus. Desse modo, depois de explicar as diferentes divisões da fé baseadas nas características dos três modos da natureza, aqui o Senhor conclui que as austeridades, penitências, caridades, etc., devem ser oferecidas a om tat sat, ou seja, à Pessoa Suprema, para se estabelecerem no modo da bondade espiritual, além de qualquer influência na energia material ilusória.Mesmo o senhor Brahma, o primeiro criatura do universo, ao executar sacrifícios pronunciou estas três palavras sagradas para indicar que a meta de seus esforços era satisfazer a Divindade Suprema. Estas três palavras são pronunciadas para invocar o Senhor Supremo e se referem aos seus santos nomes. Desse modo, na literatura védica acrescenta-se o primeiro objetivo om quando se pronuncia um hino védico ou o santo nome do Senhor Supremo como, por exemplo, o mantra, om namo bhagavate vasudevaya: “Reverências a Suprema Personalidade de Deus Onipresente”.
A palavra tat indica que, como segundo objetivo, devemos oferecer todos os nossos esforços ao Senhor, caso queiramos nos livrar de todo enredamento material. Finalmente, através da palavra sat, o terceiro objetivo fica ainda mais claro: somente o Senhor é o objeto de nosso sacrifício. A conclusão é que devemos executar nossas atividades em nome da Suprema Personalidade de Deus: om tat sat e entrarmos em harmonia com a natureza absoluta garantindo, assim, a perfeição em todas as nossas atividades. Para aperfeiçoar completamente nossa vida, coroando nossos esforços de verdadeiro êxito, devemos sempre vibrar om tat sat pois, tudo que é feito sem buscar a satisfação do Senhor, quer seja caridade, sacrifício, etc., produz um resultado sem o menor valor espiritual, tanto para esta vida quanto para a próxima.
Marcadores: CAPÍTULO XVII: As Divisões da Fé
technorati: CAPÍTULO XVII: As Divisões da Fé